domingo, 7 de março de 2010

Os amores de Azevedo

O poeta, pelo que se sabe, não teve tempo e nem oportunidade para viver um amor sério, uma paixão sincera e pura. Por isso, o dualismo que se nota nas composições líricas de gênero amoroso em Azevedo. Às vezes, trata-se de um lirismo idílico e confiante, mas ideal; outras vezes é a amargura de quem não encontrou ainda um coração que o compreendesse.
Segundo Manuel Bandeira, "o erotismo de Azevedo era travado pela timidez"; para Mário de Andrade " o poeta, por mais ousado que fosse em suas páginas literárias, tinha verdadeira fobia do amor sexual". ( MAGALHÃES JÚNIOR, 1962:98)
Desenvolvendo o tema de Mário de Andrade, Vera Pacheco Jordão comenta que Nunca poderia o amor de seu coração participar da natureza fisiológica, atingir a realização total: não haveria traço de união entre os dois mundos. Na maioria dos homens há, na adolescência, essa dissociação entre o amor-sentimento e o amor-carnal, dissociação que às vezes se prolonga por toda a vida e a leva a se desenrolar em dois planos. Mas as almas intensas, que trazem uma visão interior muito marcada, recusam o compromisso com a realidade e se fecham violentamente num mundo seu. (MAGALHÃES JÚNIOR, 1962:98)
O que nos servem como provas dos amores não correspondidos do poeta são as cartas que ele mandava ao amigo Luís Antônio da Silva Nunes. Nelas são constantes as confidências neste sentido. Podemos observar isso em um dos trechos a seguir:
Luís, é uma sina minha que eu amasse muito e que ninguém me amasse. Eis a ironia que aí me vem no meu acabrunhar sombrio, nesse meu não crer no que os outros crêm. Chamam-me frio, julgam que o egoísmo e o orgulho m'o gelara inteiro... o néctar, que se chama alma, daquela ânfora maldita que se chama vida!... Mas, em geral, o que às vezes ainda me aviva o pulsar mais trépido do sangue é a voluptuosidade que se me vislubra numa mulher donairosa, numa daquelas que parecem feitas por Deus como estátuas para rezar-se-lhes ao sopé, para pedir-lhes, como à Vênus lasciva, uma hora - uma só - de gozo... São sonhos - sonhos... Luís, É loucura abrir as asas de anjo do coração a essas brisas enlevadas que, à tarde, vêm tão sussurrantes de enleio, tão impregnadas de aromas de beijos! É loucura! E, contudo, quando o homem só vive deles, quando aí todas as portas se fecham ao enjeitado, por que não ir bater só e de noite ao palácio da fada das imaginações? (MAGALHÃES JÚNIOR,1962:99)

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