tag:blogger.com,1999:blog-49416598058028395432024-03-08T13:46:13.331-08:00Poesia e vida de Álvares de AzevedoAlexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.comBlogger19125tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-61570398845953587942011-10-09T07:16:00.000-07:002011-10-09T07:25:01.018-07:00Por que mentias?<span class="Apple-style-span" style="line-height: 14px;"><span class="Apple-style-span" style="background-color: #444444; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Por que mentias leviana e bela?<br />
Se minha face pálida sentias<br />
Queimada pela febre, e se minha vida<br />
Tu vias desmaiar, por que mentias?<br />
<br />
Acordei da ilusão, a sós morrendo<br />
Sinto na mocidade as agonias.<br />
Por tua causa desespero e morro...<br />
Leviana sem dó, por que mentias?<br />
<br />
Sabe Deus se te amei! sabem as noites<br />
Essa dor que alentei, que tu nutrias!<br />
Sabe esse pobre coração que treme<br />
Que a esperança perdeu porque mentias!<br />
<br />
Vê minha palidez - a febre lenta,<br />
Esse fogo das pálpebras sombrias...<br />
Pousa a mão no meu peito! Eu morro! eu morro!<br />
<br />
Leviana sem dó, por que mentias?</span></span>Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-24870233655919191982011-09-03T07:05:00.000-07:002011-09-03T07:05:58.438-07:00SONETO<i>Já da morte o palor me cobre o rosto,</i><br />
<i>nos lábios meus o alento desfalece,</i><br />
<i>surda agonia o coração fenece,</i><br />
<i>e devora meu ser mortal desgosto!</i><br />
<i><br />
</i><br />
<i>Do leito embalde no macio encosto</i><br />
<i>tento o sono reter!...já esmorece</i><br />
<i>o corpo exausto que o repouso esquece...</i><br />
<i>eis o estado em que a mágoa me tem posto!</i><br />
<i><br />
</i><br />
<i>O adeus, o teu adeus, minha saudade,</i><br />
<i>fazem que insano do viver me prive</i><br />
<i>e tenha os olhos meus na escuridade.</i><br />
<i><br />
</i><br />
<i>Dá-me a esperança com que o ser mantive!</i><br />
<i>Volve ao amante os olhos por piedade,</i><br />
<i>olhos por quem viveu quem já não vive!</i>Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-45674164219307031692011-07-23T10:30:00.000-07:002011-07-23T10:30:36.492-07:00Prefácio - Lira dos vinte anos<i>São os primeiros cantos de um pobre poeta. Desculpai-os.</i><br />
<i>As primeiras vozes do sabiá não têm a doçura dos seus cânticos de amor.</i><br />
<i>É uma lira, mas sem cordas: </i>( frustração amorosa)<br />
<i>uma primavera, mas sem flores, </i>(juventude sem glória)<br />
<i>uma coroa de folhas, mas sem viço. </i>( símbolo do sucesso e da glória - sem verdor).<br />
<i>Cantos espontâneos do coração, vibrações doloridas da lira interna que agitava um sonho, notas que o vento levou, - como isso dou a lume essas harmonias.</i><br />
<i>São as páginas despedaçadas de um livro não lido...</i><br />
<i>E agora que despi a minha musa saudosa dos véus do mistério do meu amor e da minha solidão, agora que ela vai semi-nua e tímida por entre vós, derramar em vossas almas os últimos perfumes de seu coração - ó meus amigos, recebei-a no peito, e amai-a como o consolo que foi de uma alma esperançosa, que depunha fé na poesia e no amor - esses dous raios luminosos do coração de Deus.</i><br />
<i><br />
</i><br />
Esse prefácio indica o pessimismo que são encontrados nos poemas da Lira dos vinte anos.Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-37438466639900142422011-07-09T10:14:00.001-07:002011-07-09T10:14:50.388-07:00A Tempestade (fragmento)<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i>Profeta escarnecido pelas turbas</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i>disse-lhes, rindo, adeus!</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i>Vim adorar na serrania escura</i></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><i>a sombra de meu Deus!</i></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-yHUu7MFLoAg/ThiMKM8ZrjI/AAAAAAAAAE4/pl1DdnoX8IE/s1600/tempestade%255B1%255D.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-yHUu7MFLoAg/ThiMKM8ZrjI/AAAAAAAAAE4/pl1DdnoX8IE/s1600/tempestade%255B1%255D.JPG" /></a></div>Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-20238377397706362902011-06-23T07:03:00.000-07:002011-06-23T07:03:19.693-07:00<i>Tudo o mais foi um sonho:</i><br />
<i>a lua passava entre os vidros da janela aberta e batia nela:</i><br />
<i>nunca eu a vira tao pura e divina!</i><br />
<i><br />
</i><br />
Noite na taverna.Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-52130439926740855962011-06-16T05:50:00.000-07:002011-06-16T05:50:12.007-07:00O lenço dela<i>Quando a primeira vez, da minha terra</i><br />
<i>deixei as noites de amoroso encanto,</i><br />
<i>a minha doce amante suspirando</i><br />
<i>volveu-me os olhos úmidos de pranto.</i><br />
<i><br />
</i><br />
<i>Um romance cantou de despedida,</i><br />
<i>mas a saudade amortecia o canto!</i><br />
<i>Lágrimas enxugou nos olhos belos...</i><br />
<i>e deu-me o lenço que molhava o pranto.</i><br />
<i><br />
</i><br />
<i>Quantos anos contudo já passaram!</i><br />
<i>Não olvido porém amor tão santo!</i><br />
<i>Guardo ainda num cofre perfumado</i><br />
<i>o lenço dela que molhava o pranto...</i><br />
<i><br />
</i><br />
<i>Nunca mais a encontrei na minha vida,</i><br />
<i>eu contudo, meu Deus, amava-a tanto!</i><br />
<i>Oh! quando eu morra estendam no meu rosto</i><br />
<i>o lenço que eu banhei também de pranto!</i><br />
<i><br />
</i>Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-4134461859447213232011-05-28T09:50:00.000-07:002011-05-28T09:57:01.088-07:00TrindadeA vida é uma planta misteriosa<br />
Cheia d'espinhos, negra de amarguras,<br />
Onde só abrem duas flores puras,<br />
- Poesia e amor...<br />
<br />
E a mulher... é a nota suspirosa<br />
Que treme d'alma a corda estremecida,<br />
- É fada que nos leva além da vida<br />
Pálidos de languor!<br />
<br />
A poesia é a luz da mocidade<br />
O amor é o poema dos sentidos,<br />
A febre dos momentos não dormidos<br />
E o sonhar da ventura...<br />
<br />
Voltai, sonhos de amor e de saudade!<br />
Quero ainda sentir arder-me o sangue,<br />
Os olhos turvos, o meu peito langue<br />
E morrer de ternura!<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-4yPmjF9GlO4/TeEpPhOABxI/AAAAAAAAAEU/Qs9jp2vliBY/s1600/4010858%255B1%255D.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="170" src="http://3.bp.blogspot.com/-4yPmjF9GlO4/TeEpPhOABxI/AAAAAAAAAEU/Qs9jp2vliBY/s200/4010858%255B1%255D.jpg" width="200" /></a></div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div>Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-86636111260884433102011-04-30T12:11:00.000-07:002011-04-30T12:11:06.653-07:00O PoetaQue gemer! não me enganava!<br />
Era anjo que velava<br />
Minha casta solidão?<br />
São minhas noites gozadas,<br />
As aventuras tão choradas<br />
Que vibram meu coração?<br />
<br />
É tarde, amores, é tarde;<br />
Uma centelha não arde<br />
Na cinza dos seios meus...<br />
por ela tanto chorei,<br />
Que mancebo morrerei...<br />
Adeus, amores, adeus!<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-o8u4ZqLQW68/TbxerWFkZ6I/AAAAAAAAAEM/6YgzHIvLeEQ/s1600/A-MULHER-FATAL-de-Alvares-de-Azevedo.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-o8u4ZqLQW68/TbxerWFkZ6I/AAAAAAAAAEM/6YgzHIvLeEQ/s320/A-MULHER-FATAL-de-Alvares-de-Azevedo.jpg" width="320" /></a></div>Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-41818191197850466642011-03-19T02:54:00.000-07:002011-03-19T02:54:12.841-07:00Quem sou?<div style="font-family: Arial; font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #660000;"><i>Quem sou?</i></span></div><div style="font-family: Arial; font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #660000;"><i>É difícil de dizer:</i></span></div><div style="font-family: Arial; font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #660000;"><i>corri mundo, a cada instante mudando de nome e de vida.</i></span></div><div style="font-family: Arial; font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #660000;"><i>Fui poeta, e como poeta cantei.</i></span></div><div style="font-family: Arial; font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #660000;"><i>Bebi numa taverna com Bacage, ajoelhei-me na Itália sobre o túmulo de Dante, e fui à Grécia para sonhar como Byron naquele túmulo das glórias do passado.</i></span></div><div style="font-family: Arial; font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #660000;"><i>Quem sou eu?</i></span></div><div style="font-family: Arial; font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #660000;"><i>fui um poeta aos vinte anos,</i></span></div><div style="font-family: Arial; font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #660000;"><i>um libertino aos trinta,</i></span></div><div style="font-family: Arial; font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #660000;"><i>sou um vagabundo sem pátria e sem crenças aos quarenta...</i></span></div><div style="font-family: Arial; font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #660000;"><i><br />
</i></span></div><div style="font-family: Arial; font-size: 12px;"><span class="Apple-style-span" style="color: #660000;"><i>Álvares de Azevedo, em Noite na taverna.</i></span></div>Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-60036320215777762072011-03-07T03:51:00.000-08:002011-03-07T03:51:26.369-08:00Ai Jesus!Ai Jesus! não vês que gemo,<br />
que desmaio de paixão<br />
pelos teus olhos azuis?<br />
Que empalideço, que tremo,<br />
que me expira o coração?<br />
Ai Jesus!<br />
<br />
Que por um olhar, donzela,<br />
eu poderia morrer<br />
dos teus olhos pela luz?<br />
Que morte! que morte bela!<br />
Antes seria viver!<br />
Ai Jesus!<br />
<br />
Que por um beijo perdido<br />
eu de gozo morreria<br />
Em teus níveos seios nus?<br />
Que no oceano dum gemido<br />
minh'alma se afogaria?<br />
Ai Jesus!Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-3892304441525963502011-02-23T02:09:00.000-08:002011-02-23T02:09:07.468-08:00No marLes étoiles s'allument au ciel, et la brise du soir erre doucement parmi les fleurs: rêvez, chantez et soupirez.<br />
(George Sand)<br />
<br />
No céu, as estrelas se iluminam e a brisa leve da noite passeia por entre as flores: sonhos, cantos e suspiros.<br />
<br />
<br />
Era de noite - dormias,<br />
do sonho nas melodias,<br />
ao fresco da viração;<br />
embalada na falua,<br />
ao frio clarão da lua,<br />
aos ais do meu coração!<br />
<br />
Ah! que véu de palidez<br />
da langue face na tez!<br />
como teus seios revoltos<br />
te palpitavam sonhando!<br />
como eu cismava beijando<br />
teus negros cabelos soltos!<br />
<br />
Sonhavas? - eu não dormia;<br />
A minh'alma se embebia<br />
em tua alma pensativa!<br />
e tremias, bela amante,<br />
a meus beijos, semelhante<br />
às folhas da sensitiva!<br />
<br />
E que noite! que luar!<br />
e que ardentias no mar!<br />
e que perfumes no vento!<br />
que vida que se bebia<br />
na noite que parecia<br />
suspirar de sentimento!<br />
<br />
Minha rola, ó minha flor,<br />
ó madressilva de amor!<br />
como eras saudosa então!<br />
como pálida sorrias<br />
e no meu peito dormias<br />
aos ais do meu coração!<br />
<br />
E que noite! que luar!<br />
como a brisa a soluçar<br />
se desmaiava de amor!<br />
como toda evaporava<br />
perfumes que respirava<br />
nas laranjeiras em flor!<br />
<br />
Suspiravas? que suspiro!<br />
ai que ainda me deliro<br />
sonhando a imagem tua<br />
ao fresco da viração,<br />
aos ais do meu coração,<br />
embalada na falua!<br />
<br />
Como virgem que desmaia,<br />
dormia a onda na praia!<br />
tua alma de sonhos cheia<br />
era tão pura, dormente,<br />
como a vaga transparente<br />
sobre seu leito de areia!<br />
<br />
Era de noite - dormias,<br />
do sonho nas melodias,<br />
ao fresco da viração;<br />
embalada na falua,<br />
ao frio clarão da lua,<br />
aos ais do meu coração!Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-32669730725470683842010-07-04T12:26:00.000-07:002010-07-04T12:26:08.174-07:00Desrroche - O portador.mpg<object style="BACKGROUND-IMAGE: url(http://i2.ytimg.com/vi/mE1VQ_Cbr0E/hqdefault.jpg)" width="425" height="344"><param name="movie" value="http://www.youtube.com/v/mE1VQ_Cbr0E&hl=pt_BR&fs=1"><param name="allowFullScreen" value="true"><param name="allowscriptaccess" value="always"><embed src="http://www.youtube.com/v/mE1VQ_Cbr0E&hl=pt_BR&fs=1" width="425" height="344" allowscriptaccess="never" allowfullscreen="true" wmode="transparent" type="application/x-shockwave-flash"></embed></object>Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-33623376371203228632010-03-28T10:30:00.001-07:002010-03-28T10:31:10.677-07:00Álvares de Azevedo, o poeta entediado...<div style="text-align: justify;">Fora do mundo acadêmico, o poeta sempre achou São Paulo uma cidade entediante. Para o poeta a monotonia era mortal na aborrecida Piratininga dos meados do século XIX. Azevedo escrevia cartas à mãe contando suas lamúrias. Uma delas escrita em 11 de junho de 1848 dizia: " Adeus e viva, que não há mais nada digno de contar-se, senão que a cidade ainda não deixou de ser São Paulo, o que quer dizer muita coisa, entre as quais tédio e aborrecimento". Esse tédio incurável e avassalador não provinha apenas de aspectos exteriores da brumosa Piratininga de ruas esburacadas e pedrosas, nem da mesquinhez do viver paulistano, mas do seu próprio ser angustiado, do seu temperamento dramático, dos recessos sombrios de sua alma devastada por uma misantropia também sem remédio.</div><div style="text-align: justify;">A angústia do poeta era tanta que chegou a prever a própria morte. Havia uma superstição fortemente enraizada entre os alunos da Academia de Ciências Jurídicas e Sociais de São Paulo: a de que em cada período letivo morreria um dos alunos do quinto ano.</div><div style="text-align: justify;">Afirmam alguns biógrados que, dominado por um mau presságio, Álvares de Azevedo, que escrevia a carvão na parede de seu quarto os nomes dos acadêmicos que tinham morrido no quinto ano do curso, deixara o ano de 1852 em branco pressentindo que seria o nome dele que preencheria o espaço.</div><div style="text-align: justify;">Depois do quarto ano voltou para o Rio de Janeiro para passar as férias. Procurava distrair-se, entretanto, a ideia maldita de que era o ano de sua morte parecia gravada em sua mente. Não queria voltar para São Paulo, chegando a fazer planos de terminar os estudos em Pernambuco, mas acabou por se resignar com a ideia do regressso à terra natal. Porém, Álvares não voltaria a São Paulo e nem iria para Recife, como planejara. A casa paterna, no Rio de Janeiro, seria a última morada do poeta do amor e da morte.</div><div style="text-align: justify;">A 10 de março de 1852 declarou-se a doença. O poeta saíra para um passeio a cavalo, porém, naquele dia voltara a pé. Teria levado uma queda e desde aí se manifestaram os primeiros sintomas da tunerculose pulmonar.</div><div style="text-align: justify;">O estado de saúde de Azevedo começou a agravar-se e ele pediu para ficar junto com a mãe até o fim. O fim se aproximava e o poeta pediu à mãe para que procurasse um padre para rezar uma missa em seu quarto. Horas depois Maneco ergueu-se um pouco no leito, reclinou-se nos braços do irmão e, tomando a mão do pai, levou-as aos lábios, num gesto reverente e agradecido, que era ao mesmo tempo uma reconciliação e uma pungente despedida. Deixou escapar essas palavras: - Que fatalidade meu pai!</div><div style="text-align: justify;">Depois de um breve estremecimento houve um silêncio que foi quebrado pelos gritos do pai, do irmão e da mãe do poeta. - Maneco! Maneco!...</div><div style="text-align: justify;">O começo da glória póstuma do poeta começou em 1853 quando foi publicado, com o título de <em>Poesias </em>um volume de pouco mais de duzentas páginas, esse volume incluía toda a matéria da <em>Lira dos vinte anos, </em>além de mais nove poesias diversas, um discurso biográfico do prefaciador Domingos Jacy Monteiro e fragmentos de uma carta a Luís Antônio da Silva Nunes. E, assim a mãe do poeta via crescer a glória do filho a medida que embranqueciam os cabelos e ia lhe apagando a visão...</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">(MAGALHÃES JÚNIOR, 1962)</div>Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-90482944566108019052010-03-20T04:34:00.000-07:002010-03-20T04:34:56.170-07:00Esperanças<em>(...) Oh! Não me odeies, não! Eu te amo ainda,</em><br />
<em>Como do peito a aspiração infinda</em><br />
<em>Que me influi o viver,</em><br />
<em>E como a nuvem de azulado incenso;</em><br />
<em>Como eu amo esse afeto único, imenso </em><br />
<em>Que me fará morrer! (...)</em><br />
<br />
Este verso faz parte do poema <em>Esperanças - Álvares de Azevedo - </em>nele, o poeta invoca a figura trágica de Thomas Chatterton por meio de uma exclamação do drama em prosa de Alfred de Vigny: <em>Oh si elle m'eût aimé! " Ah! Se ela me tivesse amado!" </em><br />
Para entendermos esta invocação do poeta é preciso saber quais foram as suas influências. A época romântica foi, como nenhuma outra, glorificadora da autodestruição. Começamos pela novela aparecida em 1774<em>, Tristezas do jovem Werther</em>, de Goethe, essa foi a primeira grande influência aos românticos. Pelo menos trinta mil suicídios, só na Alemanha, foram atribuídos ao poder sugestivo da literatura goethiana.<br />
Houve, ainda, várias outras influências deste tipo, como por exemplo, em 1802 quando o escritor italiano, Ugo Foscolo, compôs à imitação das <em>Tristezas do jovem Werther </em>, um livro a que deu o título de <em>Últime Lettere di Jacopo Ortis, </em>cujo desfecho era também o suicídio do herói.<br />
O Jacques, amante de Marion e herói do poema <em>Rolla </em>, de Alfred de Musset, é igualmente um desesperado, que o poeta paulista assim vê, num ensaio datado de 1850: " O herói do poema é um suicida: no gozo devasso afoga-se ele como uma ave do céu caída no mar (...)". (MAGALHÃES JÚNIOR, 1962:158)<br />
René, herói do livro homônimo de Chateubriand, tente o suicídio. O poeta e dramaturgo Alfred de Vigny também colaborou com essa fogueira crepitante, ao escrever o drama <em>Chatterton, </em>baseado na vida infortunada do mistificador que se matara aos dezoito anos.<br />
Todas essas influências literárias não eram indiferentes ou invisíveis aos jovens acadêmicos de São Paulo. Não é a toa que tanto os escritos em prosa, como as poesias de Álvares de Azevedo estão cheias de referências ao <em>Werther</em>, de Goethe, e ao <em>Jacopo Ortis</em>, de Foscolo, como a Musset, Vigny, George Sand. Em outras palavras, podemos dizer que tanto Álvares como os outros poetas românticos, estavam sem dúvida sob efeitos da mesma exaltação romântica.<br />
Além das obras literárias - que eram por assim dizer um curso de preparação ao suicídio - o exaltado romantismo byroniano e o fundo pessimismo dos poetas afligidos por terríveis sofrimentos completavam o quadro, dando aos poetas românticos brasileiros uma visão amarga do mundo inserindo aquele desejo de morrer. Álvares de Azevedo, um desses enamorados juvenis da morte, descobria suas inclinações cada vez que versejava.<br />
<em>Esperanças </em>é como se fosse uma carta suicida, para ser entregue à amada depois da morte. E não podia deixar de ser assim, constituindo aqueles versos um eco da exaltação passional do personagem que, no drama do romântico francês, depois de ter ingerido veneno, assim se despedia da vida:" Ó morte, anjo da libertação, como tua paz é doce! Eu bem tinha razão de te adorar, mas não tinha a força de te conquistar. Eu sei que teus passos serão lentos e seguros. Vê, anjo severo, como subtrairei a todos o traço de minha presença sobre a terra..." E de todas estas fontes foi que o poeta, Azevedo, escreveu seu poema contraditoriamente intitulado <em>Esperanças.</em>Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-91383026440952748662010-03-14T07:43:00.000-07:002010-03-14T08:16:16.375-07:00Mais que um poeta...Álvares de Azevedo, além de prosas e poesias, escreveu ensaios literários sobre Byron, George Sand, Alfred de Musset e sobre a literatura e a civilização em Portugal; novela, <em>Noite na Taverna </em>e, ainda, teatro, <em>Boêmios e Macário.</em><br /><em>Noite na Taverna </em>é, sobretudo, o reflexo da literatura estrangeira da época, patente nas inflências de Byron e Alexandre Dumas, mesclada com autores mais remotos, como Boccaccio e Shakespeare, tudo isso amalgamado e transfundido no tenebroso cadinho da alucinante de Hoffmann. Em suas histórias macabras, encadeadas por um diálogo, como as <em>Canterbury Tales, </em>de Chaucer, e o <em>Decameron, </em>de Boccaccio, ele é decididamente um escritor hoffmanesco. Azevedo chega a ser mais hoffmanesco que o próprio Hoffmann. Pois, em <em>Noites na Taverna </em>não há traços de lirismo e nem notas humorísticas ou de fantasias poética, o que acontece, às vezes, nas obras de Hoffmann.<br />No teatro, <em>Boêmios </em>é uma peça breve apresentada como um ato de comédia que não foi escrito, é em versos brancos e dá a impressão de coisa inacabada. O texto foi intercalado na segunda parte da <em>Lira dos vinte anos. </em>Já <em>Macário, </em>é uma peça mais longa e composta em prosa.<br />Azevedo foi, ainda, orador oficial da Academia de Ciências Jurídicas e Sociais quando cursava o segundo ano. Na longa oração agitavam-se ideias novas e revolucionárias, entre as quais destacavam-se as da abolição e da República. Enquanto que a família do poeta ingressava na aristocracia imperial, Azevedo começava a tender para o Liberalismo. Seu pai, conservador, tomando conhecimento das audácias do filho resolveu repreendê-lo, mas, não surgiu nenhum efeito.<br /><br />MAGALHÃES JÚNIOR, Raimundo. "Poesia e vida de Álvares de Azevedo". São Paulo: Editora das Américas, 1962.Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-43920058161104263652010-03-11T15:57:00.000-08:002010-03-11T16:39:31.681-08:00Anjinho<i>And from her fresh and unpolluted flesh may violets spring!</i><div><i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal; "><i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal; "><i>E da sua fresca e imaculada carne possam brotar violetas!</i></span></i></span><br /></i><div><i></i>Hamlet</div><div><br /></div><div><i><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Não chorem! que não morreu!</span></i></div><div><i><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Era um anjinho do céu</span></i></div><div><i><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Que um outro anjinho chamou!</span></i></div><div><i><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Era uma luz peregrina</span></i></div><div><i><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Era uma estrela divina</span></i></div><div><i><span class="Apple-style-span" style="font-family:'trebuchet ms';">Que ao firmamento voou! (...)</span></i></div><div><br /></div><div>Esta estrofe pertence ao poema intitulado<i> de</i> <i>Anjinho.</i></div><div>Para termos uma melhor compreensão desse poema é preciso um estudo mais profundo. Por isso, se faz necessário voltar ao tempo e apresentar a vida do poeta. Com isso saberemos o motivo o qual levou o poeta a escrevê-lo.</div><div>Uma vez que buscamos dados biográficos do autor percebemos que este "anjinho" não se trata de crença ou não do poeta e sim a perda do irmão. Logo na epígrafe do poema o poeta busca inspiração em Shakespeare, <i>Hamlet, <span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;">Ato V, Cena I: <i>And from her fresh and unpolluted flesh may violets spring! </i></span></i></div><div><i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;"><i><span class="Apple-style-span" style="font-style: normal; "><i>Anjinho <span class="Apple-style-span" style="font-style: normal;">foi o poema feito em memória do Inacinho, Inácio Manuel, irmão do poeta que morreu quando Álvares de Azevedo tinha pouco menos de quatro anos de idade. Inácio Manuel tinha apenas dois anos quando morreu e a sua morte causou profunda impressão em Maneco. Ao ver o irmão preparado para o enterro, quis saber a razão de tudo aquilo e deram-lhe explicações comuns: a criança morta era um anjo e subiria ao céu para brincar com os Querubins. Azevedo, exaltado, queria que o vestissem também como anjo e lhe cobrissem de flores para que fosse brincar com o irmão. Este foi o primeiro contato do poeta com a morte e a partir desse episódio começaram a aparecer-lhe os fenômenos de uma febre das mais graves, que depois se declarou com toda a violência, marcando o futuro poeta para toda a vida. </span></i></span></i></span></i></div><div><br /></div></div>Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-50725195461059230322010-03-09T12:11:00.000-08:002010-03-09T12:17:52.127-08:00Adeus, meus sonhos!Adeus, meus sonhos, eu pranteio e morro!<br />Não levo da existência uma saudade!<br />E tanta vida que meu peito enchia<br />Morreu na minha triste mocidade!<br />Misérrimo! Votei meus pobres dias<br />À sina doida de um amor sem fruto,<br />E minh'alma na treva agora dorme<br />Como um olhar que a morte envolve em luto.<br />Que me resta, meu Deus?<br />Morra comigo<br />A estrela de meus cândidos amores,<br />Já não vejo no meu peito morto<br />Um punhado se quer de murchas flores!Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-20752776344331130272010-03-07T05:59:00.000-08:002010-03-07T06:23:47.834-08:00Os amores de AzevedoO poeta, pelo que se sabe, não teve tempo e nem oportunidade para viver um amor sério, uma paixão sincera e pura. Por isso, o dualismo que se nota nas composições líricas de gênero amoroso em Azevedo. Às vezes, trata-se de um lirismo idílico e confiante, mas ideal; outras vezes é a amargura de quem não encontrou ainda um coração que o compreendesse.<br />Segundo Manuel Bandeira, "o erotismo de Azevedo era travado pela timidez"; para Mário de Andrade " o poeta, por mais ousado que fosse em suas páginas literárias, tinha verdadeira fobia do amor sexual". ( MAGALHÃES JÚNIOR, 1962:98)<br />Desenvolvendo o tema de Mário de Andrade, Vera Pacheco Jordão comenta que <em>Nunca poderia o amor de seu coração participar da natureza fisiológica, atingir a realização total: não haveria traço de união entre os dois mundos. Na maioria dos homens há, na adolescência, essa dissociação entre o amor-sentimento e o amor-carnal, dissociação que às vezes se prolonga por toda a vida e a leva a se desenrolar em dois planos. Mas as almas intensas, que trazem uma visão interior muito marcada, recusam o compromisso com a realidade e se fecham violentamente num mundo seu. </em>(MAGALHÃES JÚNIOR, 1962:98)<br />O que nos servem como provas dos amores não correspondidos do poeta são as cartas que ele mandava ao amigo Luís Antônio da Silva Nunes. Nelas são constantes as confidências neste sentido. Podemos observar isso em um dos trechos a seguir:<br /><em>Luís, é uma sina minha que eu amasse muito e que ninguém me amasse. Eis a ironia que aí me vem no meu acabrunhar sombrio, nesse meu não crer no que os outros crêm. Chamam-me frio, julgam que o egoísmo e o orgulho m'o gelara inteiro... o néctar, que se chama alma, daquela ânfora maldita que se chama vida!... Mas, em geral, o que às vezes ainda me aviva o pulsar mais trépido do sangue é a voluptuosidade que se me vislubra numa mulher donairosa, numa daquelas que parecem feitas por Deus como estátuas para rezar-se-lhes ao sopé, para pedir-lhes, como à Vênus lasciva, uma hora - uma só - de gozo... São sonhos - sonhos... Luís, É loucura abrir as asas de anjo do coração a essas brisas enlevadas que, à tarde, vêm tão sussurrantes de enleio, tão impregnadas de aromas de beijos! É loucura! E, contudo, quando o homem só vive deles, quando aí todas as portas se fecham ao enjeitado, por que não ir bater só e de noite ao palácio da fada das imaginações? </em>(MAGALHÃES JÚNIOR,1962:99)Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-4941659805802839543.post-62179928779404848642009-12-26T03:42:00.000-08:002009-12-26T04:54:59.432-08:00Nasce um novo Poeta!<div align="justify">Manuel Antônio Álvares de Azevedo é o segundo filho do casal Inácio Manuel Álvares de Azevedo e Maria Luísa Carlota Silveira da Mota. Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo na manhã do dia 12 de setembro de 1831. Em uma carta escrita, em 1917, pela sexta irmã do poeta, Maria Francisca de Azevedo Amaral, ela declara que o irmão teria nascido <em>em casa e na sala da biblioteca do avô paterno, conselheiro Joaquim Inácio Silveira da Mota. </em>Aquele menino estava predestinado a viver e morrer do mesmo modo que nascera, entre os livros.</div><div align="justify">Mudou-se para o Rio de Janeiro com seus pais e Maneco, como era chamado o poeta, começou a ter sucesso em seus estudos ao ingressar no Colégio Stoll em 1840, mostrando ter extraordinária inclinação para o estudo de línguas. Com apenas nove anos de idade já escrevia cartinhas em francês e inglês para a sua mãe. Matriculou-se no internato do Imperial Colégio de D. Pedro II, então a mais importante casa de ensino secundário. Em 1847, Álvares de Azevedo faz o sétimo ano do curso de preparatórios e é declarado bacharel em Letras, título que isentava os estudantes da obrigação de prestar exames para admissão nas escolas superiores. Em São Paulo, matriculou-se na Academia de Ciências Jurídicas e Sociais, começou uma nova e a mais importante fase de sua vida.</div><div align="justify">Azevedo foi uma pessoa tímida e de poucos amigos. A princípio confiava apenas no amigo Luís Antônio da Silva Nunes, a ele contou sobre os projetos literários em que se ocupou no segundo semestre de 1848. Aos poucos Maneco fez amizades com Bernardo Guimarães e Aureliano Lessa, firmado amizade entre os três calouros de Direito, passaram a trocar impressões sobre os versos que escreviam. Chegaram a pensar em publicar uma obra coletiva, porém, <em>Três Liras, </em>nome que dariam à publicação, nunca saiu do papel. Provavelmente, as primeiras páginas da <em>Lira dos vinte anos </em>foi o que Álvares de Azevedo escreveu pensando na obra coletiva. De início o autor hesitou quanto ao título do livro, deu o nome de <em>Brasileiras </em>e depois o trocou por<em> Folhas secas da mocidade de um sonhador </em>e, novamente, por<em> Lira dos vinte anos de um trovador sem nome.</em> Após a morte do poeta, quando a Lira foi publicada, a família decidiu reduzir o título às quatro primeiras palavras. E assim, em 1853, publicou-se a primeira edição da<em> Lira dos vinte anos.</em></div><div align="justify"><em></em></div><div align="justify"></div><div align="justify"> </div><div align="justify"> </div><div align="justify">MAGALHÃES JUNIOR, Raimundo. <em>Poesia e vida de Álvares de Azevedo. </em>São Paulo: Editora das Américas, 1962.</div><div align="justify"><em></em></div><div align="justify"></div>Alexandre http://www.blogger.com/profile/08689166994326235465noreply@blogger.com0